Em Novembro, assim…

Então, ontem fizemos um passeio na praia que foi uma delicia!

O dia começou com uma ida ao supermercado, já levava comigo a ideia de trazer ingredientes para fazer umas belas de umas sandochas para o nosso almoço alancharado. Com isto, lá fui. Bom, a principio não me pareceu que o dia estava a correr no melhor sentido, mas agora que olho para trás, vejo que tinha tudo para correr bem, o sol brilhava num céu azul cristalino de outono, mas já se fazendo notar o inverno, daqueles dias que já se sente bem o frio e tudo acorda coberto de geada, a relva cheia de gotinhas de gelo a embelezar os campos.  Por aqui, onde actualmente vivo, no inverno o cenário é semelhante a uma bolinha de vidro, daquelas que viramos ao contrário e caiem uns floquinhos que ficam a flutuar por cima de uma pequenina cidade que tem dentro. Sabem ao que me refiro? Não me lembro do nome, mas quando olho em redor, assim me sinto, dentro de uma redoma de vidro, num mundo que parece um postal.

Interessante, como mudando a perspectiva tudo se transforma…

Pois é, estava aqui a pensar, que não sei porque fico a viver num lugar que não gosto, não me identifico, não faço intenções de me integrar, porque fico então?

Estas dúvidas têm permanecido, sem que de alguma forma chegue a uma conclusão. Pergunto-me se devo ficar, se devo mais uma vez, tentar partir, ir para sul talvez, mas será melhor? Não sei a resposta. Mas quando chego ao nosso pequeno paraíso, descalço os sapatos, tiro as meias, sinto os pés enterrarem-se na areia, olho em redor, vejo a lagoa, o mar…

… e, então, sei porque fico.

É que, aqui tudo se transforma. Sinto uma pertença que apenas me limito a sentir, pois nada, nem uma uma palavra, poderá descrever esta emoção.

Ontem foi dia de filmar e fotografar, mas tem dias que apenas permaneço ao som do mar, que me diz o quanto está feliz por me sentir aqui.

Aqui, não sinto que é meu, que eu sou dele, apenas sou, somos tudo, não existe o eu, o mar, a lagoa, a areia, o céu, apenas somos, o Todo.

Por isto fico e mudo a perspectiva.

A luta continua, a casa grande, difícil de manter. Por vezes, não parece assim tão grande, por vezes, apenas me sinto mais pequena, tudo se agiganta num paço de incerteza, confiança é tudo o que é preciso ter, alegria de viver e Amor no coração, transformará, com certeza, o mundo em redor e, apenas não. Tudo pode sempre ser transformado, tudo pode ser invertido e mudado. E assim, ser feliz enfim, como uma rosa num jardim como dizia o avô Manuel que cantava para mim:

Minha prenda adorada, encanto dos avós, tens um rosto de fada e um sotaque na voz. Que espanta! Que encanta! Dando alegria entre nós. Que Deus te conserve assim, sempre bonita e airosa, como uma rosa num jardim, para seres feliz enfim…

Ainda não tenho jardim com rosas, como sempre desejei. Também não sinto, que tenha sido feliz até aqui. Talvez ainda não tenha tentado, talvez não saiba como, talvez não seja possível sem vocês aqui, avô Manuel, avó Maria de Lourdes. Talvez este mundo não seja para essas coisas, ou talvez, essa coisa da felicidade, não seja para mim. Felicidade, o que é isso afinal? Mas lembro-me de ti, feliz, a sorrir para mim, a tua mancha branca no cabelo ondulado, espesso, a covinha do teu sorriso, as tuas mãos de maestro, a seriedade e leveza com que te sentavas enquanto escrevias.

As folhas voam em teu redor, fazem um som reconfortante ao cair suavemente, sobre pavimento em linóleo. Não te assustes, sou só eu a despertar do sono. Vamos sorrir juntos mais uma vez? Fica só mais um bocadinho, mesmo que sejas apenas uma aparição, não desapareças, por favor, só mais um bocadinho e já vais.

Vamos fazer assim, se um dia tiver um jardim com rosas, sei que a felicidade estará ali, e tu, serás cada uma delas a sorrir para mim.

Esta casa, é o espelho da minha vida. Em cada racha, vejo o trabalho que nela preciso investir. Os alicerces são fortes e de boa estrutura, o telhado mantém-se e lá se vai moldando às movimentações do edifício. És forte, imperfeita e livre, mas teremos de assentar as duas, para uma ser o abrigo da outra e não a tortura.

Afinal, mereces um jardim de rosas.

Um limoeiro, uma laranjeira, um pessegueiro, uma figueira, não, eu queria, mas uma figueira não pode ser! Desejo ver-te vestida de jardim, em coroa de jasmim, rosas, margaridas, porque não? As margaridas são flores simples e darão equilíbrio às rosas e ao jardim, não o queremos muito pretensioso. Um pequeno banco, para me sentar a apreciar a obra, as borboletas, as joaninhas, sapos e lagartixas, os caracóis, os melros, as rolas, os pardais, os tordos, os pintassilgos que cantam livres, atarefados e felizes no jardim.

Será preciso um milagre, para este fim. Enfim…

🌹

There is a crack, a crack in everything
That's how the light gets in
That's how the light gets in
That's how the light gets in

Leonard Cohen in Athem

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ouvir aqui 🎧🎶

Até breve amigos!

Maria



P.S. - sobre a música, se virem o vídeo, na parte final, quando Leonard Cohen apresenta os músicos, deixa-me sempre emocionada, o respeito com que o faz. Que grandeza de espírito! Grande Senhor, tem todo o meu respeito.

Maria Antonieta Campos

Olá! Sou a Maria Antonieta Campos, mãe de três, poetisa, produtora de conteúdos digitais. Em 2019 mudei-me com os meus filhos, para uma casa algures numa aldeia de Portugal. Desde então, passo muito tempo na cozinha, cozinhando e ouvindo música, despertando os meus sentidos para a vida doce e para o bem comer. Pacifista, amante da Natureza e de tudo aquilo que fazemos parte, encontro na vida do campo um modo slow de viver, aprendendo a ser autónoma e a ultrapassar a cada dia, as dificuldades que uma rapariga nascida e criada na cidade, naturalmente encontra ao chegar à aldeia. Livros e pão são a minha paixão, paz é o meu lema. O Contém Livros surgiu aqui, nesta casa em 2020 com uma etiqueta colada na testa, que ao fim e ao cabo, esta etiqueta, diz quase tudo sobre mim…

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O Outono chegou!