O Outono chegou!

Fim de verão início do outono

Que alegria de viver! Como sou feliz com o cheiro, as cores, a temperatura, a luz, com todas as sensações lindas que o Outono nos presenteia. Feliz, feliz, feliz!

Felicidade, naquelas pequenas coisas que se tornam grandes, que nos fazem sentir aconchegantes, calorosos, pensantes… o lar, o nosso doce lar! 🏡✨

Por falar em lar, neste Outono comecei por fazer, uma super, hiper, mega, limpeza sazonalmente refrescante. Comecei pela cozinha, estou lá já faz três dias, mas progredindo a cada instante.

Ai! Que alegria de viver!

Alegria de Viver!

Canção da Roupa Branca

“Ai rio não te queixes

Ai o sabão não mata

Ai até lava os peixes

Ai põe-nos cor de prata…

Música do filme Aldeia da Roupa Branca interpretado por Beatriz Costa

É claro que me lembro da belíssima Canção da Roupa branca com letra de Ramada Curto e Chianca de Garcia e música de Raul Portela, interpretada por Beatriz Costa no filme Aldeia da Roupa Branca de 1939.

A ouvir neste momento, recordando os domingos sentada no sofá com a avó Lourdes, a comer bolinhos secos e a ver as matinés de filmes portugueses, que dava todos os domingos à tarde na RTP. Avó, como te sinto a falta! Que dói mais que tudo. Não quero nem começar pelas Radionovelas que ouvia contigo enquanto costuravas e me tentavas ensinar. Lembras-te, que em menos nada costurei uns calções para o meu careca? Foi num piscar de olhos. E, assim, num piscar de olhos, tu desapareceste.

Agora, choro…

Vamos ouvir a música, que nos traz alegria, aqui :)

Enquanto isso, a limpeza sazonal continua e ainda longe de acabar, seguimos com alegria e Amor no coração.

Agora parei um pouco, naquele momento, em que estava deitada no chão da tua salinha de costura, mesmo ao lado do móvel da máquina, numa cama improvisada com um cobertor e uma almofada, que me preparaste para ali estar ao pé de ti, porque eu nunca queria dormir a cesta, tu acabavas por me fazer a vontade, convencias-me que para ali ficar, tinha de te deixar trabalhar e teria de trabalhar também com a avó, então, eu concordava, apesar de detestar tudo o que metia agulhas e que era preciso paciência ter. Deixavas-me escolher um bocadinho de tecido, dos que as clientes te deixavam ficar, depois das peças feitas, fazendas boas, sedas e assim, eu escolhia sempre os mais difícil de trabalhar, mas os mais bonitos, depois, perguntavas-me o que queria fazer. Naquele dia, disse que queria fazer uns calções para o meu careca, mas daqueles tipo jardineira, com presilhas e tudo, e, um bolsinho no peitoral, tu disseste que era difícil, mas eu insisti, tinha de ser! Ensinaste-me e eu conclui a tarefa, não naquela tarde, mas nas que se seguiram, sempre à mesma hora. Ora sentada na manta, ora me deitava um pouco, ouvíamos a radionovela, paravas de vez em quando, por causa do suspense, olhavas para mim, que também parava para te ver, fazias um ar sério, por causa da história que se desenrolava com entoação teatral, depois acenavas com um sim e fazias um sorriso grave, porque estavas muito envolvida com a história para conseguires descontrair. Eu achava graça, e, aborrecida, voltava para a maldita da costura.

Paro aqui, aqui fico, deitada na manta, sabendo que ai estás, costuras, e eu, aqui deitada, na cama improvisada que me fizeste com Amor de avó e de mãe que foste para mim, aqui estou, aqui fico, porque preciso de aqui me demorar um bocadinho, sabendo que aí estás, à distancia de apenas a cabeça erguer, para te ver, para te ver aí sentada, em frente à máquina de costura, a cozer. Preciso ficar aqui, um bocadinho agora, neste outono da vida. Avó, que os anjos te cuidem, como eu não fui capaz de te cuidar… não consegui, não soube como, não aguentei, contigo morri. Avó, preciso de ti.

Ainda aqui estou, vejo-te os sapatos, as meias de seda, como te sentavas de postura elegante, joelhos juntos, ligeiramente inclinados para a direita, e, mesmo ali por baixo da máquina de costura, guardavas escondidos os livros políticos, revolucionários, que gostavas de ler, mas ainda os mantinhas escondidos, não fosse o diabo tecê-las e a ditadura voltar a dar cartadas suas. Ainda te vejo, a dizeres-me adeus à janela quando ia apanhar o comboio, dizias-me adeus até eu desaparecer no fim da rua, por vezes, antes de ir, depois de passar a curva e começar a descer, esperava uns segundos, depois, voltava a trás para te ver mais uma vez, tu já sabias que eu fazia isso, sorriamos as duas e dizíamos adeus. Eu ía, sem querer ir, pois ali contigo é que se estava bem, mas ia, porque achava que tinha que ir, ia, mas a sorrir, porque naquele momento, tu estavas ali, e, mais tarde, quando eu voltasse, me esperavas, me abrias a porta, com o avental vestido me recebias, com jantar quase pronto. Subia a escada com degraus em madeira, que rangiam e faziam um som oco, eu não dizia nada, mas olhava para ti com um sorriso, tu dizias: - Então filha? Estiveste bem? A avó está a fazer o jantar. Cheirava ao teu tempero. Eu acenava que sim, que tinha estado bem, sorria para ti. Estava em casa, estava em casa.

Agora, enquanto cubro a cara com as mãos, choro. Sinto-te aqui sentada ao meu lado esquerdo, passas-me com o teu braço direito pelos ombros, depois, seguras-me no cabelo, como se tranças me fosses fazer, estás tranquila, não dizes nada, mas ouço-te cantar, mas desta vez, não te vejo os lábios mexer, ouço-te, não sei como, mas ouço-te. Estás com um aspecto mais jovem e tranquilo, seguras-me o cabelo, ouço-te cantar uma melodia que me acalma e aos poucos, tento parar de chorar. Escrevo, tu lês, sem olhar, o teu olhar é vago, mas nunca viste tão bem. Já não trazes óculos, avó? Sinto uma calma que me percorre de onde te ouço, estás aqui, ao pé de mim. Avó, recordo-me do que não deveria ter feito, das coisas que não deveria ter dito, de tudo, de ti, de mim, de nós duas. Só te desejo pedir perdão, perdão por quem fui, pelo quem ainda sou… Avó, estou a tentar não ser tão tempestuosa, ter mais calma e paciência, estou a tentar ficar, não estar sempre a ir. Encosto a cabeça ao teu ombro, seguras-me com carinho de irmã, já não és avó, estás mais jovem, mais jovem do que eu agora. Amparas-me como irmã, conforto me dás, reconfortada me sinto, mas vejo que tens de ir, vai, que isto aqui é mau como o raio, e tu sabes disso, sabes como é, vai avó. Vejo-te quem és, vejo-te assim, jovem, tranquila, de vestido bonito, penteado elegante, cabelos soltos, cortados diretos, acima dos ombros, ligeiramente ondulados e espessos, usas o risco ligeiramente ao meio, mais para a esquerda, sinto-te preocupada, mas hoje, o que me trazes é conforto. Vejo-te jovem, vejo que estás a ficar bem e isso é tudo para mim. Avó Lourdes.

Meus amigos, que me lêem, obrigada por aqui estarem, por me lerem, por fazerem parte de mim. A minha vida, nada de especial tem, é uma vida, como tantas outras. Vos sinto e sei que aqui estão. Eu, aqui estou também, como vocês, neste mar de emoções, que todos sentimos, nesta saudade que nos invade, nesta vida que tanto nos dá, que tanto nos tira. Estamos juntos, juntos aqui e agora, enquanto isto da vida durar e dura para sempre, porque a vida, nunca acaba, a vida é eterna, de tempo infinito e ilimitado. Obrigada, muito obrigada, por fazer parte deste destino comigo, assim caminhamos, sem nunca nos sentirmos sós. Obrigada, sou grata e feliz, por te sentir aqui.

Sempre vossa,

Maria.

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Maria Antonieta Campos

Olá! Sou a Maria Antonieta Campos, mãe de três, poetisa, produtora de conteúdos digitais. Em 2019 mudei-me com os meus filhos, para uma casa algures numa aldeia de Portugal. Desde então, passo muito tempo na cozinha, cozinhando e ouvindo música, despertando os meus sentidos para a vida doce e para o bem comer. Pacifista, amante da Natureza e de tudo aquilo que fazemos parte, encontro na vida do campo um modo slow de viver, aprendendo a ser autónoma e a ultrapassar a cada dia, as dificuldades que uma rapariga nascida e criada na cidade, naturalmente encontra ao chegar à aldeia. Livros e pão são a minha paixão, paz é o meu lema. O Contém Livros surgiu aqui, nesta casa em 2020 com uma etiqueta colada na testa, que ao fim e ao cabo, esta etiqueta, diz quase tudo sobre mim…

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